Tubarões das Bahamas
As Bahamas poderiam tê-lo feito mudar de ideias. Ernest Hemingway, que em meados da década de 1930 se refugiou no arquipélago, munido de máquina de escrever e canas de pesca, sentiu-se inspirado a escrever sobre peixes, pesca e as alegrias da vela. É verdade que Hemingway vituperava os tubarões que devoravam os peixes antes de ele conseguir puxá-los à linha. Como represália, aliás, matou centenas deles, alvejando-os e queimando as carcaças na praia. Contudo, também escreveu sobre eles com veneração. Em “O Velho e o Mar”, referindo-se a um tubarão-anequim que emergia, Santiago diz: “Tudo nele era belo excepto as suas mandíbulas… Não é um necrófago, nem mero apetite em movimento… É belo e nobre e não tem medo de nada.”
As Bahamas de hoje continuam muito parecidas com as ilhas que Hemingway conheceu. A maior parte do arquipélago, constituído por cerca de 700 ilhas e bancos de areia espalhados ao longo de 800 quilómetros, ainda não foi afectada pelo desenvolvimento industrial. Os autóctones ainda subsistem vendendo lagosta das Caraíbas, lucianos e concha-rainha. Os pescadores desportivos ainda apanham flechas (Albula vulpes) nos baixios e espadins-azuis e veleiros na “Língua do Oceano”, uma fossa abissal de águas frias, com 1.800 metros de profundidade.
Os tubarões também continuam a viver neste mar. Num único local de mergulho chamado Tiger Beach, cerca de uma dezena de tubarões-tigre rodopiam, não como abutres, mas como um mobile pendurado sobre a cama de uma criança. Com olhos escuros e atentos do tamanho de punhos, têm a pele manchada com marcas e riscas subtis. A seguir ao tubarão-branco, esta é, supostamente, a espécie mais perigosa do mundo. Come tudo, incluindo outros tubarões, chapas de matrícula ou pneus. Uma fêmea grande abandona a formação e nada direita a mim, passando tão perto que consigo distinguir, pontilhando-lhe o focinho, os poros que lhe permitem sentir o batimento cardíaco de outros animais à distância. Quando ela desliza, enorme e silenciosa, estendo o braço e passo a mão pelo seu flanco: parece lixa fina. Para um peixe com tão má reputação, este causou uma primeira impressão desarmante.
Os grandes tubarões-tigre não são os únicos que por aqui abundam. Mais de 40 espécies cruzam as águas das Bahamas, incluindo o tubarão-limão, o tubarão-martelo-gigante, o tubarão-buldogue, o tubarão-de-pontas-negras, o tubarão-anequim, o tubarão-luzidio e o tubarão-dormedor; até as tintureiras migrantes e os enormes tubarões-baleia atravessam a região. Outros vivem aqui durante todo o ano, dando à luz nas mesmas lagoas sossegadas onde nasceram.
O nome Bahamas deriva do espanhol Baja Mar, que significa “águas rasas”. O arquipélago assenta sobre duas plataformas calcárias, o Grande e Pequeno Banco das Bahamas, e está dividido por canais que chegam a atingir 3.900 metros de profundidade. É esta combinação de precipícios e baixios, de margens rochosas e costas arenosas, de recifes de coral, planícies de intensa vegetação, mangues e lagoas calmas que alimenta formas de vida de todos os tamanhos. As águas límpidas do Atlântico e a corrente quente do golfo misturam-se para criar um banquete de delícias do mar que atrai os tubarões.